sábado, 25 de fevereiro de 2017

QUANDO EXISTIR É JOGAR: Um convite ao encontro psicoterápico


 

“O que eu faço agora pode produzir em mim areia movediça ou pista de dança” (Luiz Fuganti)

        Em nossas relações cotidianas nos vemos imersos numa miscelânea de discursos e práticas que nos atravessam cirurgicamente e que podem produzir efeitos enfraquecedores no nosso sentir e fragmentadores no nosso fazer, principalmente por partirem, de maneira opressora e dominante, de um modo de vida capitalístico pleno de cristalizações e atolamentos em sua forma de operar, que universaliza a subjetividade humana, fazendo a gestão de nossos desejos e liberdades, capturando-os e se sobrepondo às singularidades.

       Os efeitos desses atravessamentos apresentam-se como sintomas paralisantes em nós e nos impedem de criar outras formas de existir, de encontrar ou produzir saídas, de nos vermos múltiplos e de conquistarmos a capacidade de experimentar sensivelmente o que há entre nós e o mundo, de maneira a multiplicar as intensidades nessas passagens, nesses contatos e contágios. Acompanhar e estimular essa possível abertura para a invenção de outros modos de existir é o principal foco de um bom encontro psicoterápico.

      Um bom encontro psicoterápico apresenta-se como um convite à transmutação de estados culpabilizantes e/ou ressentidos em responsabilização e cuidado de si, não como moralizantes ou meros organizadores e sim como meio para a produção de possibilidades inéditas de pensar e agir em sintonia com uma autonomia a ser tecida no entre, na fenda intensiva dos acontecimentos, em que “jogar” possa ser verbo de expansão e alargamento do existir, via de afirmação de uma vida que se produza alegre sem se limitar a planos como ganhar e perder, mas que se mantenha ativa e pulsante enquanto processo brincante, e que vá selecionando as composições mais intensas e preenchidas de sentido.

(Juliana Felipe)  

         

           

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