“O
que eu faço agora pode produzir em mim areia movediça ou pista de dança” (Luiz
Fuganti)
Em
nossas relações cotidianas nos vemos imersos numa miscelânea de discursos e
práticas que nos atravessam cirurgicamente e que podem produzir efeitos
enfraquecedores no nosso sentir e fragmentadores no nosso fazer, principalmente
por partirem, de maneira opressora e dominante, de um modo de vida
capitalístico pleno de cristalizações e atolamentos em sua forma de operar, que
universaliza a subjetividade humana, fazendo a gestão de nossos desejos e
liberdades, capturando-os e se sobrepondo às singularidades.
Os efeitos desses atravessamentos apresentam-se
como sintomas paralisantes em nós e nos impedem de criar outras formas de
existir, de encontrar ou produzir saídas, de nos vermos múltiplos e de
conquistarmos a capacidade de experimentar sensivelmente o que há entre nós e o
mundo, de maneira a multiplicar as intensidades nessas passagens, nesses
contatos e contágios. Acompanhar e
estimular essa possível abertura para a invenção de outros modos de existir é o
principal foco de um bom encontro psicoterápico.
Um bom encontro psicoterápico apresenta-se
como um convite à transmutação de estados culpabilizantes e/ou ressentidos em responsabilização
e cuidado de si, não como moralizantes ou meros organizadores e sim como meio
para a produção de possibilidades inéditas de pensar e agir em sintonia com uma
autonomia a ser tecida no entre, na fenda intensiva dos acontecimentos, em que “jogar”
possa ser verbo de expansão e alargamento do existir, via de afirmação de
uma vida que se produza alegre sem se limitar a planos como ganhar e perder,
mas que se mantenha ativa e pulsante enquanto processo brincante, e que vá
selecionando as composições mais intensas e preenchidas de sentido.
(Juliana
Felipe)
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