Se o encontro
terapêutico me faz engendrar como cartógrafa um campo afetivo e, em dado
momento, paciente e eu compartilhamos nuances caóticas de determinadas
experiências, eu, afetada diretamente por essas nuances, e percebendo os excessos
e transbordamentos gerando paralisias e atolamentos, deparo-me com o imperativo
de “dar nome aos bois” que se apresentam, bois de vários tipos, tamanhos e texturas,
que, emaranhados e enredados, não se veem bois, e estão a tecer uma teia
grudenta.
Com o corpo implicado,
portando voz cuidadosa e fluida, guiada por micropercepções trançadas em formas
claras, ir esboçando (com lápis preto, nunca com caneta) algum contorno e
produzindo alguma qualidade de contensão, que se fará não para cristalizar
quadros e muito menos interpretar o vivido, mas para descongestionar,
desobstruir as passagens, e permitir que novas multiplicidades as preencham.
Usar um tipo especial de sensibilidade para fechar e abrir com o mesmo
movimento, solapando as chances de lançamento de uma encorpada angústia num código
meramente classificatório e categorizante, que seria gerador de alívio, mas não
de abertura para as múltiplas saídas a serem percebidas e/ou produzidas.
Agindo como uma
ponta de agulha quente que facilita o vazamento da ferida purulenta, mas não
para cicatriza-la o mais rápido possível e sim para que possa realmente vazar.
“Dar nome aos
bois” para depois... Conectá-los às zonas de intensidade da manada.
(Juliana Felipe)
Nenhum comentário:
Postar um comentário